segunda-feira, 14 de junho de 2010

Ragas

A história da música indiana clássica se confunde com a evolução da historia indiana, ela é considerada uma das mais antigas sobreviventes da musica da humanidade.

Eminentemente espiritual mas ao mesmo tempo profundamente humana, a musica faz parte da vida social – religiosa – cultural do povo indiano; daí vem a sobrevivência dessa arte milenar.

A musica clássica indiana, teve suas primeiras evidências na época Védica (2000 a.c.).

O Natya Sastra de Bharat é um compêndio criado por volta de 200 a.c. para sistematizar a ciência e a música. Define as 7 notas musicas e também ensina que é dever do musico compositor evocar Rasa e Bhava, isto é, um sentimento particular através do uso apropriado das notas.


A partir do século VI desenvolve-se o modo de cantar ragas e mais tarde, devido diversos fatos culturais, a musica hindu se dividiu em Karnataki (sul da Índia) e Hindustani (norte da Índia).

A palavra raga em sânscrito significa charme, sentimento, cor. Um raga se define por um conjunto de elementos musicais, tais como, uma escala, motivos melódicos, ornamentos típicos e além do conteúdo emocional, pode simbolizar a ira, a alegria, o amor, as estações do ano e as horas do dia.

Os ragas foram compostos por autores anônimos e são ouvidas e tocadas até hoje pelos músicos indianos.

De acordo com o modo de pensar hindu, tudo é composto de forma e essência, sendo assim, o raga é considerado a materialização (forma) de uma energia muito sutil (essência), o que traduz a busca do homem por sua essência divina. Os ragas também exprimem a beleza da natureza, mesmo porque existe um raga para cada período do dia, pois o dia sofre variações energéticas de acordo com o principio básico do Universo: criação, pausa e retração. Assim a manifestação da manhã através da musica é naturalmente diferente da tradução da noite.

Estas musicas são consideradas inspirações divinas e o compositor é um mero condutor/intérprete desta inspiração, por este motivo que a maioria é de autoria desconhecida, pois o compositor não se considera “criador” do raga, mas apenas um canal que ajuda a dar forma a esta essência.

Os ragas respeitam uma estrutura muito bem definida, composta da seguinte forma:
  • Alap: exposição das notas – através do improviso o musico expõe ao ouvinte a ordem melódica do raga escolhido.
  • Gat: composição fixa - esta parte é rica em improvisações, o percussionista e o solista ambos brincam com o raga e o tala (ciclo rítmico definido).
  • Tan: terceira parte - a transição acontece gradualmente, acelerando aos poucos. O solista canta mais e mais rapidamente criando suspenses climaxes que somente serão fechados na ultima nota.
Convido a todos que busquem a experiência de ouvir um raga e se desdobrar para uma outra dimensão, este exercício pode trazer novas experiências que são impossíveis de traduzir em palavras. Vale a pena!

Fonte: Ratna Bali musicista – Oficina de canto – Março 2009

Fernanda Souza Payão
Sócia Proprietária e Professora de DOC

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